Simpósio Internacional de Missiologia reflete sobre a alegria do Evangelho

“O Evangelho da alegria impulsiona a missão”. Este é o tema do 2º Simpósio Internacional de Missiologia que acontece no Uruguai em preparação para o 5º Congresso Missionário Americano (CAM 5) a realizar-se na Bolívia em 2018.
A programação do Simpósio que iniciou no domingo, 28, inclui conferências, fóruns temáticos, debates e celebrações. As atividades se estendem até quarta-feira, 02 de março, e são realizadas no Colégio Marista São Luís, na cidade de Pando, a 100 quilômetros de Montevidéu. Participam cerca de 80 representantes das Pontifícias Obras Missionárias (POM), organismos e conferências episcopais de 22 países do Continente americano e convidados da Europa.

Na primeira conferência, padre Luca Pandolfi, professor de antropologia cultural e sociologia da religião na Universidade Urbaniana de Roma, discorreu sobre o significado do termo “alegria”. O professor lembrou que existem vários sentidos de alegria: popular, psicológico e antropológico, com suas diferentes formas de expressar e entender. Mas existe também um sentido teológico cristão, sobretudo “a alegria em Cristo Ressuscitado” como tempo propício para viver essa “grande alegria”.

Nesse sentido, padre Pandolfi citou o episódio dos discípulos de Emaús (Lc 24, 1-52) que haviam perdido a alegria e a reencontraram para depois partilhá-la. Eles souberam comunicar alegria e esperança aos outros discípulos.


Em seguida, o teólogo destacou, do capítulo 24 do Evangelho de Lucas, sete etapas da viagem até Emaús como um itinerário de pedagogia bíblica. Cada etapa mostra um estilo comunicativo e um estilo de linguagem.

Na primeira etapa é evidenciado o fazer-se próximo, da parte de Jesus. Como segunda etapa temos o “caminhar juntos”. Logo vem uma terceira, compostas por perguntas, olhares, silêncios, palavras e escuta. Neste momento, depois de haver escutado e seguido o caminho com os discípulos, Jesus toma a palavra. É a quarta etapa. “Anunciar a palavra de Deus significa, realizar o primeiro anúncio aos que não creem, como uma catequese, até fazer arder o coração”, sublinhou o teólogo.

Uma etapa posterior, a quinta, consiste na liberdade, “condição de possibilidade para a nossa fé no Senhor e para o testemunho do evangelizador, do missionário, da catequista: Jesus não se detêm, nem detêm os outros ou obriga. A decisão é por liberdade do interlocutor”, explicou.

A sexta etapa é a dos sinais: da partilha, do dom de si, do amor pelos amigos que fará abrir os olhos e reler toda a história. Finalmente, na sétima etapa, “a palavra regressa ao silêncio, à escuta (como no sábado hebraico), e ao mesmo tempo ressoa a confissão de fé no caminho, no anúncio alegre, na esperança reencontrada, na capacidade dos discípulos de fazer-se próximos, de partilhar e doar a vida. Eles regressam a Jerusalém, quer dizer à história com seus desafios e contradições, alegrias e esperanças”.

Em sua reflexão, padre Pandolfi que também dirige o Centro de Comunicações Sociais da Universidade Urbaniana, evidenciou detalhes sobre cada uma das etapas presentes na passagem dos discípulos de Emaús. Para isso, recorreu também à linguagem de comunicação e ciências sociais.

A alegria das bem-aventuranças
Uma segunda conferência versou sobre “a alegria das bem-aventuranças”, iluminada pelo texto de São Mateus (Mt 4, 25-5,12). O tema foi apresentado pelo biblista espanhol, padre José Cervantes, doutor em teologia e licenciado em Sagrada Escritura que há 18 anos trabalha na Bolívia e leciona também na Espanha.

Padre Cervantes se concentrou na palavra “alegria” que se repete na passagem. “Bem-aventurado é muito mais que felizes, do que ser alegre. Bem-aventurado expressa a profunda comoção e emoção de ânimo diante da percepção e acolhida do Reino de Deus revelado por Jesus Cristo que proclama o essencial do Evangelho por meio de felicitações tendo por destinatários os pobres, os indigentes, os desprezados”, explicou o conferencista.

Na opinião do padre Cervantes, a primeira parte do texto refere-se a uma categoria de pessoas que sofrem uma série de carências aos quais Jesus dirige sua palavra restauradora que lhes mostra o amor de Deus.

“A segunda parte das bem-aventuranças é um desenvolvimento que Mateus faz aos que prestam ajuda aos demais, aos que trabalham pela paz, aos puros de coração. As razões das bem-aventuranças é a presença de Deus em nossa vida, que dá pão a quem tem fome, consola os aflitos, concede a herança aos deserdados. E finalmente temos os perseguidos por serem fiéis a estas propostas de vida”, destacou o teólogo e prosseguiu. “O que desejo mostrar é que a grande alegria é um estado permanente daqueles que se encontraram com Jesus Cristo, inclusive nos sofrimentos. Assim, a alegria não é quando todos os problemas estão resolvidos, nem um estado além da morte. Na verdade, a bem-aventurança é um estado de alegria permanente, mesmo enfrentando adversidades. Bem-aventurados são aqueles que se encontraram com Jesus Cristo mesmo nas contradições deste mundo”, afirmou.

Por fim, o teólogo destacou a força profética das bem-aventuranças em sua capacidade de ir contra a corrente e mostrar que “a alegria não está aonde o mundo pensa que está. Que a alegria não é somente para nós, mas para todo o mundo. Que a alegria não é algo além do sofrimento deste mundo, mas sim uma experiência da gratuidade de Deus no tempo presente, também em meio ao sofrimento, como mostrado na Paixão de Cristo. Esta é a maior expressão de alegria onde Cristo mostra a capacidade de transformar por meio do amor. Por isso, a Paixão de Cristo é a maior fonte de alegria que se expressa na Ressurreição”.

Grupos e fóruns temáticos
Na parte da tarde os participantes do Simpósio se reuniram em grupos para aprofundar o conteúdo das conferências. Em seguida, trabalharam em seis fóruns temáticos: missão e ecologia; missão e família; missão e educação; missão e catequese; novas formas de cooperação missionária e tarefa das Pontifícias Obras Missionárias nas Igrejas locais.

O estudo têm a finalidade de fomentar reflexões sobre a missão nos diferentes contextos dos países do Continente.

Do Brasil participam do Simpósio, dom Waldemar Passini Dalbello e os padres Camilo Pauletti, Estêvão Raschietti, Jaime C. Patias e Sidinei Marco Dornelas.

A missa de encerramento nesta quarta-feira, 02, será no Santuário de Nossa Senhora dos Trinta e Três, padroeira do Uruguai.

(de www.pom.org.br)